Quem é São Judas Tadeu na umbanda? Veja o sincretismo com o Orixá Xangô!

O sincretismo religioso adotado dentro dos centros de Umbanda é uma herança das casas de matrizes africanas que muito tempo antes já praticavam esse sincretismo como forma de sobrevivência, a fim de manter vivo os cultos e rituais trazidos da sua terra natal, do qual foram retirados a força.

No surgimento da Umbanda não existia mais escravidão, mas ainda existia o forte preconceito, então para ser aceita em meio a sociedade os altares da Umbanda continuaram sendo feitos pelos Santos católicos, dando continuidade ao sincretismo. Conheça agora quem é São Judas Tadeu e Xangô e qual é sua história na umbanda.

Energia, força, afinidade e necessidade, do Orixá Rei dos Trovões e das Pedreiras ao Santo apóstolo de Jesus, ambos possuem seus machados, os guerreiros que antes de lutar trazem na balança o símbolo de justiça e equilíbrio. Veja abaixo como e quando essas duas forças passaram a se relacionar e a movimentar seus leais fiéis.

O sincretismo é a correlação entre duas forças divinas que têm a mesma energia ou atribuições. O sincretismo no Brasil infelizmente não veio através de um movimento espontâneo por afinidade, ele aconteceu entre os Orixás Africanos e os Santos Católicos pela necessidade dos escravos em esconder sua religião.

Os escravos tinham a necessidade de esconder a quem eles adoravam e assim conheceram os Santos e foram se identificando com os Orixás. Oxum se tornou Nossa Senhora de Aparecida, Ogum - São Jorge, Oxalá - Jesus Cristo, Iemanjá - Nossa Senhora dos Navegantes e assim por diante.

Quando retirados de suas terras para servir como escravos em outras partes do mundo, os negros africanos além de perder a sua liberdade, perderam também a sua cultura. Ao chegar no Brasil os negros que sobreviviam aos navios negreiros eram obrigados a se batizar logo na chegada, tendo como punição a morte caso isso não acontecesse por alguma rebeldia.

Os negros continuavam louvando os seus Orixás porém quando eram pegos ajoelhados “batendo cabeça” eram cruelmente castigados. Por conta disso os negros começaram a pegar as imagens de Santos católicos e furavam a parte de baixo, colocando dentro uma pedra que representava um orixá e assim nasce o sincretismo no Brasil.

Os negros escolhiam os Santos que tivessem a afinidade com a energia do Orixá e quando o “sinhô” via os negros “rezando” na frente da imagem de São Jorge, não via nenhum problema, mas não fazia ideia que na verdade ele estava rezando para Ogum, e assim por diante. Com o tempo a adoração ao Santo também aconteceu, gerando uma união de forças.

Na história nós temos diversos exemplos de sincretismo religioso por diversos motivos diferentes. A igreja católica no seu auge expansionista absorveu diversas culturas, datas e preceitos para conseguir adentrar dentro de algumas culturas mais rápido, um exemplo é a festa de natal que era originalmente uma festa pagã que comemorava o solstício de inverno.

Por esse mesmo motivo existiu o sincretismo entre os Gregos e Romanos, que modificaram e quase uniram as suas mitologias, sendo facilmente confundidas pelos leigos no assunto. Hoje em dia a necessidade de se ter o sincretismo é cada vez menor pois as religiões estão tomando um espaço de liberdade aos poucos.

São Judas Tadeu conhecido por diversos outros nomes, como Judas Tadeu, Judas Lebeus e São Matfiy. Foi um dos apóstolos de Jesus Cristo durante a sua passagem na terra, é importante afirmar que ele NÃO é Judas Iscariotes. Quem segundo a bíblia teria traído Jesus o entregando por 30 moedas de prata.

São Judas Tadeu foi um apóstolo e também primo de Jesus Cristo, sua pregação era considerada fervorosa e falava direto aos pagãos que logo se converteram. São Judas Tadeu nasceu em Caná de Galileia, na Palestina. Irmão de Thiago também apóstolo era um dos mais leais ao lado de Jesus Cristo.

São Judas estava presente e foi um dos apóstolos que presenciaram a imagem de Jesus no caminho de Emaús, após a ascensão de Jesus ele começou a pregar durante o pior período de perseguição na Galilleia. Seguiu posteriormente para diversas outras regiões, levando a palavra de Cristo até chegar na Armênia, Síria e Norte da Pérsia.

Ao chegar na Mesopotâmia teve como companheiro seu irmão Simeão que continuaram a levar a palavra de Cristo, porém como relata São Jerônimo ao se negarem a prestar culto à deusa Diana, foram martirizados cruelmente e mortos com golpes de machado. Suas relíquias encontradas seguem expostas hoje em dia na basílica de São Pedro.

No Brasil esse Santo é representado sempre com um livro na mão que traz a representação da palavra que ele pregava e trazia com muita fé e devoção, e na outra mão ele traz um machado que é a representação de sua dor durante os momentos de martírio e o instrumento de sua morte.

São Judas Tadeu se tornou advogado intercessor junto a Deus criador de tudo e de todos em nome de todos que rogam a ele. Também é o senhor das causas desesperadas e dos momentos de angústia extrema. Sendo chamado nos momentos de aflição ele representa a esperança e a bondade, além da fé e devoção absolutas.

Na igreja ocidental é feita de forma conjunta a comemoração no dia 28 de outubro, data esta que é comemorada também a sua festa aqui no Brasil. Na Paróquia de São Pedro acontece anualmente desde 1940 uma das festas mais aguardadas pelos fiéis, chega a ter um público itinerante de mais de 300 mil pessoas.

Xangô, poderoso Orixá cultuados nas religiões de matrizes africanas e afins, originalmente da África teve sua importação feita junto com os escravos que fizeram de tudo para manter sua cultura, ritos e manifestações vivas durante a época da escravidão. Xangô foi o quarto rei de Oió, justo e piedoso mas ao mesmo tempo firme e rígido quando necessário.

Segundo a tradição africana, Xangô teria sido o quarto rei de Oió, sendo o seu pai e seu irmão o primeiro e o segundo, e seu tutor o terceiro rei. Porém o terceiro reinado estava cheio de problemas, pois o rei era impiedoso e não ligava para o seu reino, fazendo com que Xangô fosse aclamado e solicitado a tomar o troco para governar.

Xangô era firme e carrancudo, de poucas palavras e bem amedrontador, porém um rei extremamente justo e piedoso que colocava o bem estar dos seus súditos como uma prioridade, os protegendo e tratando com muito respeito e dignidade a todos. Um líder bondoso, mas extremamente severo e punitivo com aqueles que mereciam.

Senhor dos raios e dos trovões, Xangô é o Orixá da justiça divina e do equilíbrio, ele não faz as leis, isso é por conta de Ogum, mas Xangô faz o julgamento em sua balança e é o trabalho de Exu executar as leis cármicas julgadas por Xangô. Orixá do fogo, seu raio e sua chama são temidos por todo o baixo astral.

No brasil existem diversas qualidades de Xangô que se apresentam cada um à sua maneira, porém é mais comum ver Xangô sendo representado com a sua coroa e carregando nas duas mãos os seus machados, que são suas armas de guerra. Xangô também vem com o banté, com cores variadas e fortes que representam as vestes dos eguns.

Xangô tem sua comemoração dividida em dois dias do ano a depender de tradição para tradição, esses dias são 29 de junho e 29 de setembro. Tendo também sincretismo com outros santos católicos como São Jerônimo e São João Batista. Xangô também é o senhor dos mistérios do culto de egungun, sendo guardião e senhor desse segredo.

Através da visão de uma das doutrinas de Umbanda que também cultua esse Orixá que é a Umbanda Sagrada, os Orixás são representações dos tronos sagrados de Deus, esses tronos seriam energias emanada diretamente do criador que se dividem em sete e irradiam tudo e todos na terra, esses tronos seriam: “Fé, Amor, Conhecimento, Lei, Justiça, Evolução e Geração”.

Xangô seria o regente masculino do trono da Justiça, junto de Iansã (Orixá feminino) enquanto Ogum seria regente do trono da Lei junto de Egunitá. Essas fontes vivas de poder estariam constantemente se polarizando porque na prática não existe justiça sem lei e não tem o porquê de existir a lei se não existe uma justiça para aplicar.

Dentro desse conceito é normal encontrar literaturas, contos e muitos pontos cantados (louvações de Umbanda) que juntam esses Orixás para representar a sua sinergia. Alguns pontos chegam a mencionar uma batalha entre Xangô e Ogum pela Iansã, onde Xangô sairia vitorioso com sua rainha ao seu lado.

Xangô o Orixá rei, senhor dos mistérios de egungun, dos raios, trovões e fogo, e São Judas Tadeu, primo e apóstolo de Jesus, propagador do evangelho e testemunha dos milagres de Deus. Onde essas energias se convergem e como foi feito esse sincretismo entre essas duas divindades sagradas, entenda um pouco mais sobre isso logo abaixo.

A princípio as semelhanças entre Xangô e São Judas Tadeu podem parecer um pouco confusas principalmente para quem não conhece um ou outro. Inicialmente o que deve se levar em consideração é que o sincretismo além de se dar entre as religiões, também varia de região para região, principalmente no Brasil com esse grande espaço.

Existe um ponto que diz que Xangô morreu com a idade, escrevendo a justiça em uma pedra, assim como São Judas é representado com um livro que seria as suas leis, Xangô também é conhecido por ter esse livro, como uma alusão às leis divinas em ambos os casos, além da ligação com o machado, para São Judas, símbolo de força e de fé, assim como para Xangô, por se tratar de suas armas de guerra.

A questão que mais distancia ambos na visão dos seus fiéis é a diferença da religião de matriz africana para cristã, assim como a forma de cultuar cada um deles. Mas isso é algo colocado pelos fiéis, já que é seguro afirmar que ambos representam a mesma força de Deus além de virem na mesma energia essencial.

Devido a vasta extensão territorial e a falta de comunicação entre os povos escravos durante muito tempo, diversas culturas foram criadas. Na África por exemplo não existe o que nós conhecemos aqui no Brasil como Candomblé, lá cada tribo ou região cultuava apenas um número reduzido de Orixás que representavam aquela região.

Já no Brasil pela junção de diversos povos africanos nas mesmas senzalas, o candomblé foi criado, onde cada um cultuava o seu, mas dentro do mesmo espaço além de transmitir o conhecimento. Dentro desses fatos, diversas regiões apresentam o seu sincretismo de maneira diferente com outros Santos como São Jerônimo e São João Batista.

Além de sofrer uma certa perseguição e preconceito de católicos que não queriam a imagem de seus santos dentro de um centro de Umbanda ou de Candomblé, gerando diversas invasões a esses espaços religiosos, mas que hoje em dia é muito mais aceito apesar do preconceito existir, ele não se dá mais exatamente por esse motivo.

Sim, validado e vivenciado, muito mais importante do que qualquer um diga para você é, o que você sente e vivencia dentro da sua fé. Por mais que a seja ritualisticamente desenvolvida em grupo, a fé é individual e particular de cada um, desde que exista o amor, e bom senso envolvido, o certo e errado será apenas questão de opinião.

Manifeste a sua fé e seja livre para sentir aquilo que está dentro do seu coração. A própria palavra” manifestar” já indica algo que vem de dentro para fora, sendo assim respeite o seu coração, o que é válido para você pode não ser válido para o outro, quanto mais nós respeitarmos o irmão que é diferente, mais próximo de Deus nós estaremos.