Quem é Iansã?
Iansã é um título de Oyá, uma Yabá, ou seja, um Orixá feminino. Há diversos itans que explicam a origem deste título, mas o mais popular é de que Oyá recebeu o título de Iansã por ter nove filhos. Oyá é uma Yabá guerreira, senhora dos ventos e raios.
Ela é uma das esposas do Rei Xangô, Orixá que domina o fogo, com quem aprendeu a cuspir fogo, e sai em batalhas, conquistando novos territórios. Iansã teve muitos amores e, com cada Orixá masculino, aprendeu a dominar uma magia ou a manusear uma arma diferente.
Além disso, também é o Orixá que conduz o espírito dos mortos, logo após a passagem, e quem auxilia as almas perdidas a encontrarem a luz. Assim, Iansã é uma Yabá rainha, senhora dos raios, dos ventos e das tempestades, cuspidora de fogo, mãe de nove filhos, Orixá de guerra e condutora dos mortos. Para compreender melhor sobre ela e todos esses aspectos, acompanhe nosso artigo!
Conhecendo Iansã
Iansã, ou Oyá, é uma qualidade de Orixás femininos que possuem qualidades de orixás masculinos. Cada atributo com o qual Iansã foi presenteada compõe sua gama de habilidades, tornando-a imparável como o vento. Entenda mais sobre ela a seguir!
■Origem de Iansã
Oyá é filha da princesa Ala, fruto de uma relação proibida. Assim que descobriu a gravidez da filha, o rei a atirou ao rio. Tempos depois, um bebê foi encontrado ofertado ao rei, que o adotou, na busca de se redimir pela morte da filha.
Mais tarde, o rei descobriu que a criança se tratava de sua verdadeira neta e que deveria devolvê-la ao rio. Pouco depois, Oyá foi encontrada pelo caçador Odulecê, seu pai adotivo.
■Iansã no Brasil
Iansã é um dos orixás mais conhecidos no Brasil, pois suas histórias são passadas de geração em geração, desde a época em que o culto aos Orixás era proibido pelos escravizadores.
Sem poder cultuar suas divindades como deveriam, distantes de seus familiares e amigos e cercados por pessoas de outros povos e nacionalidades, os negros africanos criaram novas formas de cultuar seus deuses, misturando praticas e Itans de diferentes localidades e buscando no catolicismo um disfarce para seus rituais. Assim, surgiram as vertentes brasileiras do culto a esse Orixá.
■Domínios de Iansã
A mitologia dos Orixás é baseada nas forças da natureza e eventos considerados sobrenaturais. Portanto, é comum encontrar, entre os Itans, histórias que relacionem as forças naturais a algum Orixá específico.
Sendo assim, Oyá é considerada o Orixá que tem domínio sobre as forças da tempestade, dos raios, dos ventos, dos tornados e dos tufões. Ela é a personificação da fúria da natureza, mas também está presente na brisa suave, que acalma e refresca.
■Elemento fogo
Iansã representa o vento e os movimentos do ar, que é seu elemento principal. No entanto, com cada Orixá masculino que se relacionou, Oyá desenvolveu uma nova habilidade, até se unir a Xangô, seu parceiro de vida e conquistas. Juntos, Oyá e Xangô formaram o casal do dendê.
Esta alcunha surge do temperamento forte destes Orixás, mas também por exercerem domínio sobre o fogo. Segundo seu Itan, Oyá foi à terra dos baribas, para buscar a poção que permitia Xangô cuspir e soltar fogo pelo nariz. No caminho, ingeriu parte da poção, adquirindo a mesma habilidade que o marido.
■Animal que representa
A Orixá Iansã é representada por dois animais principais. A búfala, da qual veste a pele e se transforma para se esconder ou proteger seus filhos, e a borboleta, que faz parte da mitologia de Oníra, uma qualidade de Oyá que se afogou e foi salva por Oxum, transformando-a em borboleta.
Há também um Itan em que Oyá se metamorfoseia em elefante branco, para fugir de uma tentativa de estupro. Existem diversas qualidades de um mesmo Orixá, com histórico de vida distintos.
■Cor
As cores de Iansã vão do vermelho aos tons terrosos. No culto tradicional, sua cor é o marrom, mas, no Brasil, o vermelho passou a ser a cor mais utilizada para representá-la no Candomblé e o amarelo é usado em algumas casas de Umbanda. Há também Oyás que vestem rosa, em um tom puxado para o salmão.
Esta tonalidade é ligada a Onira, que, segundo o Itan, foi uma guerreira implacável e vivia coberta do sangue de seus oponentes. Mas, ao entrar no palácio de Oxalá, Orixá que veste branco, ele a cobriu com Efun, um pó branco sagrado que deixou suas vestes rosadas.
■Dia da semana
Iansã, ou Oyá, e Xangô formam o casal do dendê. Juntos, compartilham o seu domínio. Enquanto Oyá representa o raio, Xangô representa o trovão. Um está intimamente ligado ao outro. Por este motivo, o dia da semana em que o Orixá deve ser cultuado é o mesmo para ambos, sendo a quarta-feira.
Neste dia, seus filhos acendem suas velas e fazem suas oferendas, além de entoarem cantos e orações para o Orixá. É um dia de meditação, contemplação, agradecimento e reflexão. Na Umbanda, Iansã também é cultuada na segunda-feira.
■Número
Além das cores, regências e animais, cada Orixá possui um número de regência, o qual está diretamente ligado aos itans a seu respeito. No caso de Iansã, o número nove está presente até em seu título "Ìyá Mésàn", que significa mãe de nove filhos.
Assim, conta o Itan que Oyá não poderia ter filhos, mas fez o sacrifício de um carneiro e foi agraciada com nove. Dessa forma, a partir deste momento, todos passaram a se referir a ela como mãe de nove filhos, Iansã ( Yánsàn).
■Saudação
Nas religiões de matriz-africana, cada Orixá possui uma saudação específica, que deve ser entoada com força e alegria, toda a vez em que chegam em Terra por meio da incorporação utilizada no início das orações, ou sempre que se deseje chamar pelo Orixá e pedir sua proteção.
Portanto, esta saudação é um cumprimento, uma forma de dizer olá e sinalizar que o Orixá é bem-vindo e admirado neste recinto. No caso de Iansã, sua saudação é o "Eparrey Oyá!", que também pode ser escrito: Eparrêi Oyá!
Sincretismo religioso
É comum ver Orixás e santos sendo relacionados a uma mesma força, de acordo com suas histórias de vida. Esta foi a forma que os povos escravizados encontraram para compreender o cristianismo e cultuar seus Deuses em segredo. Dessa forma, confira o sincretismo religioso presente na Orixá Iansã a seguir!
■O que é sincretismo religioso?
No Brasil colonial, aqueles que não cultuavam o cristianismo eram perseguidos, torturados e mortos. Assim, a saída para manter sua fé e se manter vivo era disfarçar seus cultos em orações aos santos católicos. Esta prática possibilitou a resistência do culto aos Orixás, mas também criou distorções.
Então, embora elas sejam religiões muito diferentes até os dias atuais, o catolicismo brasileiro segue permeado pelos cultos e práticas das religiões africanas. Da mesma forma, elas também incorporaram elementos do cristianismo.
■Quem é Santa Bárbara?
Santa Bárbara foi uma jovem isolada em uma torre por seu pai. Sua criação foi delegada a tutores, que a ensinaram os princípios do paganismo. Na idade de se casar, Barbara recusou seus pretendentes e seu pai decidiu permitir que conhecesse a cidade, onde descobriu o cristianismo e se converteu.
Assim, a moça foi perseguida e torturada, sendo degolada por seu próprio pai, que foi morto por um raio. Desde sua beatificação, Santa Bárbara é tida como protetora contra raios e trovões e padroeira dos que trabalham com fogo.
■Santa Bárbara e Iansã
As histórias de vida de Santa Bárbara e Iansã são distintas, mas, no momento de sua morte, Santa Bárbara foi vingada por um raio e foi considerada mártir do cristianismo desde o século III, sendo santificada posteriormente.
A vida em cativeiro, a morte por perseguição religiosa e a morte de seu carrasco, somadas ao fato de ser considerada protetora contra raios e trovões e padroeira dos que trabalham com fogo, fez com que os africanos escravizados a relacionassem aos domínios de Iansã. Além disso, se apegaram à santa, pedindo proteção contra seus algozes, ironicamente cristãos.
■Dia de Iansã
Nas tradições dos povos africanos, não se estipula uma data exata para que o culto ao Orixá seja feito. Até mesmo porque, até onde se sabe, o culto aos Orixás data de quatro mil anos atrás - pelo menos dois mil, antes do início da contagem do calendário cristão.
Sendo assim, aqui no Brasil, a possível data da morte de Santa Bárbara é utilizada para que se façam os cultos a Iansã na umbanda e em algumas vertentes do Candomblé, cujos cultos sofreram mais influência cristã.
Características dos filhos de Iansã
Os filhos de Iansã são vistos como pessoas fortes, dinâmicas, sensuais, trabalhadoras, corajosas e apaixonadas. Independentemente da religião que se siga, a vibração de seu orixá estará sempre contigo e isso pode, ou não, transparecer em algumas características ou passagens da vida. Confira a seguir as características dos filhos desse orixá a seguir!
■Características dos filhos de Iansã
Os homens filhos de Iansã são fortes e capazes, desvencilhando-se dos problemas da vida com facilidade. Extremamente calorosos e leais, são capazes de demonstrar emoções profundas, mas também são controladores e difíceis de lidar, tendendo a se tornar vingativos, caso se sintam traídos.
Na maioria dos casos, as mulheres são regidas por Orixás femininos e os homens por orixás masculinos, mas pode acontecer de a pessoa precisar da força de um orixá específico, em algum momento de sua trajetória de vida, e nascer já sobre esta regência.
■Características das filhas de Iansã
As filhas de Iansã são mulheres fortes e sensuais, estudiosas, curiosas e inteligentes e buscam exercer cargos de liderança. São mães exigentes e controladoras, mas são profundamente amorosas e costumam ter suas atitudes compreendidas por seus filhos em idade adulta.
Além disso, são mulheres corajosas e trabalhadoras incansáveis. Não suportam traições e sofrem muito, até encontrar sua parceria de vida. Possuem intuição aguçada e podem desenvolver um alto grau de mediunidade. São naturalmente místicas e facilmente atraídas pelo oculto.
■Filhos de Iansã no amor
No amor, os filhos de Iansã são intensos, apaixonados, fiéis e sonhadores. Almejam uma relação sólida e profunda, mas tendem a sofrer traições, separações ou viuvez. Isso se deve ao odú de Iansã, que lida com as energias de vida e morte.
Além disso, buscam parceiros educados, amáveis, românticos, sedutores e fogosos. Querem uma companhia que saiba lidar com seu temperamento explosivo e seu alto grau de exigência. Portanto, seu parceiro ideal deve compartilhar da mesma intensidade e desejo ardente.
Itans de Iansã
Os Itans de Iansã possuem variações, de acordo com a mitologia de cada nação de axé, bem como a origem dos povos que a trouxeram para o Brasil. Sendo assim, você pode encontrar diversas versões para seu nascimento, para a origem do título de Iansã e outras partes de sua história. Confira um pouco deles a seguir!
■O que é Itan?
Itan é o nome que se dá às histórias de vida dos orixás. É através dos Itans que o conhecimento sobre cada orixá é passado de geração em geração. Hoje em dia, é possível encontrar livros de coletâneas mitológicas e até de ensinamentos e rezas aos Orixás.
Mas sua tradição permanece oral, principalmente dentro das casas de santo, onde os mistérios da religião são preservados e compartilhados, à medida em que se vai subindo de nível na hierarquia religiosa.
■Itan de Iansã e Obaluaê
Nas religiões de matriz africana, os Itans de Iansã com Obaluaê, ou Omolu (que, para algumas nações, são nomes de um mesmo Orixá e, para outras, são Orixás irmãos), possuem algumas variações. Alguns versam sobre uma grande amizade entre os dois Orixás, enquanto que outros falam sobre terem sido casados.
Dentre os Itans envolvendo estes dois Orixás, o mais conhecido é o da festa no palácio de Xangô. Obaluaê foi à festa vestindo suas palhas, mesmo sem ter sido convidado. Todos se afastaram, menos Iansã, que dançou com ele e fez com que o vento transformasse suas chagas em pipocas, revelando a beleza deste Orixá.
■Itan de Iansã e o búfalo
No Itan de Iansã e o búfalo, Oyá possui uma pele de búfalo que, quando a veste, se metamorfoseia neste animal, passando, assim, despercebida por entre os homens. Segundo este Itan, Oyá anda na mata vestida de búfalo, enquanto que Ogum, acreditando se tratar do animal, a caça.
Sem perceber que era observada, Oyá retira a pele, esconde na mata e vai ao mercado comprar alimentos. Então, Ogum se apaixona pela beleza de Oyá, rouba e esconde sua pele e vai até o mercado atrás da moça, para pedi-la em casamento.
■Itan de Iansã e Ogum
Segundo o Itan, após pedir Iansã em casamento, Ogum é desprezado pela moça, que segue para a mata para buscar sua pele. Ao chegar em seu esconderijo, o local onde havia escondido sua pele, Oyá percebe que ela foi roubada.
Logo, Iansã percebe que foi Ogum quem a roubou e que, se não casasse com o rapaz, nunca mais teria sua pele de volta. Então, Oyá retorna ao mercado e aceita o pedido, mas não sem, antes, exigir que Ogum nunca revelasse seu segredo.
■Itan de Iansã e os chifres mágicos
No Itan de Iansã e Ogum, é revelada a magia de seus chifres. Oyá é tem nove filhos com Ogum e passa a ser chamada de Iansã, despertando a inveja das outras esposas do Orixá. Então, em um plano para afastá-la, as esposas embebedam Ogum, que revela o segredo de Oyá. Assim, as esposas passam instigar Oyá, dando pistas do local onde Ogum escondeu sua pele.
Dessa forma, Oyá fica furiosa, recupera sua pele e ataca a todos na casa, menos seus nove filhos, entregando-lhes seus chifres e revelando que, ao esfregá-los um no outro, ela os ouviria onde estivessem e viria ajudá-los em suas aflições.
■Itan de Iansã espalha as folhas de Ossaim
O Itan de Ossaim e Iansã conta que Ossaim exerce domínio da cura pelas ervas, sabendo qual planta usar e como utilizá-la. Por este motivo, Xangô se sentia ultrajado por ter que recorrer a Ossaim, sempre que se feria em batalha. Dessa forma, armou um plano para roubar as folhas e pediu a ajuda de Oyá.
O plano consistia em aguardar o dia em que Ossaim deixasse sua cabaça de folhas pendurada em um galho de Iroko e fazer com que os ventos de Oyá as espalhassem. Oyá assim o fez e todos os orixás tiveram acesso às folhas de Ossaim.
Oferendas para Iansã
As oferendas para Iansã devem ser feitas sempre às quartas ou às segundas-feiras. Aos Orixás são ofertadas suas comidas prediletas e objetos de domínio, para pedir bênçãos e proteção em seus caminhos, sempre que for necessário ou que seu coração sentir que deve. Dessa forma, confira como realizar essas oferendas a Oyá!
■Acarajé para Iansã
De acordo com sua história, Iansã foi enviada por Xangô para buscar a poção mágica que o fazia cuspir fogo. Mas, em uma das versões do Itan, a poção foi entregue no formato de bolinhos de acarajé e, desconfiada, Oyá provou, antes de entregar ao marido.
Este evento fez com que eles se tornassem o casal do Dendê e, desde então, bolinhos de acarajé são ofertados a Xangô e a Iansã em forma de adoração, sempre às quartas ou às sextas.
■Abará para Iansã
É uma boa opção oferecer o abará para Iansã às segundas e às quartas. Além de Iansã, este prato também é ofertado a Obá e aos Ibejis. Embora seja menos popular, a receita do abará é praticamente a mesma do acarajé.
A principal distinção entre os dois preparos é que o abará é cozido, enquanto que o acarajé é frito. Por esse motivo, dizem que o acarajé representa a brasa e o abará representa a brasa esfriada pelo amor puro e verdadeiro.
■Espigas de milho para Iansã
Espigas de milho verde podem ser ofertadas a Iansã. É possível que a explicação para esta oferenda esteja em sua relação com Xangô, o Orixá que tem o milho como uma de suas comidas prediletas.
Esta oferenda é a menos comum e a de preparo mais simples, bastando cozinhar as espigas de milho verde inteiras e cobri-las com mel. Dizem que é um alimento bastante apreciado por este Orixá, mas não são todas as nações de axé que o preparam.
Como saber se sou filho de Iansã?
Para saber se você é filho de Iansã ou de qualquer outro Orixá, será necessário consultar o Ifá, o jogo de Búzios. Hoje em dia, é possível encontrar muitos sites ensinando diversas formas de descobrir qual seria o seu Orixá, pois muitos oferecem cálculos numerológicos ou análises baseadas em passagens de sua vida ou características pessoais, mas nada disso tem fundamento real.
Dessa forma, os mistérios dos Orixás não são compartilhados publicamente, pois muitos deles só são passados para quem atinge o mais alto grau na hierarquia da matriz africana e, mesmo assim, são transmitidos oralmente, para que não caiam em mãos erradas.
Portanto, a única forma confiável de descobrir o seu Orixá de cabeça é consultando o jogo de búzios de um zelador de axé de sua confiança.
Professora de Português e Inglês, Revisora, Tradutora, Redatora Web e Artista Plástica, que busca na conexão espiritual e na força dos orixás, a inspiração e os caminhos abertos para ser tudo o que nasceu para ser.