O que significa ajayô? Origem da saudação de Carlinhos Brown.

O que significa ajayô? Origem da saudação de Carlinhos Brown.

Muito do que há no Brasil é uma herança dos povos africanos. Entenda nesse artigo qual a origem dessa expressão e o que ela significa!


O que significa ajayô?

Estátua de orixás do candomblé

Ajayô é um agradecimento, uma saudação de finalização por algo que foi concluído. Também equivale a expressão “que assim seja”. Em várias edições do programa de TV The Voice Brasil ouvimos o artista Carlinhos Brown gritar ajayô para o público, popularizando a saudação entre pessoas de todas as idades.

Quem acha que a palavra ajayô é um jargão inventado pelo artista está enganado. Essa palavra está presente na cultura brasileira há muitos séculos, mas especificamente no estado da Bahia, no entanto, tornou-se apenas mais conhecida a partir do programa de TV.

A palavra tem sua origem e história pouco conhecidas apesar de serem parte do rico arsenal cultural do nosso país. Nesse artigo, você vai entender mais sobre seus significados bem como os de outros termos que fazem parte desse cenário.

Origem da palavra ajayô

Afoxé do candomblé

A palavra ajayô tem origem africana e foi sendo incorporada na cultura brasileira, ainda em formação, no período colonial partir da chegada de nativos africanos ao país. Continue lendo para conhecer melhor a história e os demais termos pertencentes a identidade brasileira.

História

A expressão ajayô é falada também como parte do pedido de proteção a Oxalá, um dos orixás mais importantes entre as tribos da África. Esses povos foram tirados de seu país e trazidos ao Brasil como escravos. Tendo seus corpos massacrados e liberdade roubada, sua fé é língua nativa eram a única coisa que, por vezes, podiam manter.

O regime escravista no Brasil fez com que negros livres e não libertos habitassem, na maior parte, em regiões da Bahia. Tal miscigenação permitiu que a cultura africana fosse estabelecida. Assim, o candomblé, a capoeira, entre outras expressões, inclusive a palavra ajayô, são faladas e praticadas como um símbolo de resgate em todos os sentidos.

Ojoyê

Ojoyê ou ajoyê é um termo utilizado no candomblé para descrever o Zelador de Orixás. O termo tem origem Iorubá, uma das maiores etnias da África Ocidental. Este é um cargo muito importante no terreiro, pois o zelador tem função de acompanhar, dançar e também cuidar dos apetrechos da divindade.

Também são conhecidas como ekedis, e esse papel é reservado as mulheres. Ser uma ajoyê é equivalente a uma dama de honra. Assim, sua presença é imprescindível, pois além de apresentar as entidades, garante que tanto os orixás como os visitantes no terreiro estejam adequados e confortáveis. Também é um dos cargos mais trabalhosos da religião.

Afoxé e Carlinhos Brown

O Afoxé é uma manifestação milenar da cultura africana, entretanto, a conhecemos como parte rítmica da música tocada em carnavais e em vários eventos do estado da Bahia. O artista Carlinhos Brown, por sua vez, é baiano, e esse é um registro musical que pertence à sua vivência e do qual ele, orgulhosamente, representa.

A palavra afoxé é de origem Iorubá e sua apreciação é mais forte em Salvador. É parte da manifestação de resistência e da religiosidade do povo negro no Brasil desde meados de 1800. A história que precede o afoxé é profunda e mágica, os sons do atabaque, agogô e danças são, em sua essência, contagiantes e inconfundíveis.

O que ajayô, ojoyê e Candomblé têm em comum?

Altar de candomblé

Ajayô e ojoyê são expressões utilizadas, em geral, no candomblé. Esse último, portanto, é uma religião afro-brasileira muito antiga com mais de 40 mil praticantes só no Brasil e milhares de adeptos em todo mundo.

É formada por grupos, também chamados de nações, em que cada uma delas cultuam uma divindade. Nessa parte do artigo você vai entender outros termos usados.

Quem é Oxalá

Oxalá é conhecido como O Grande Orixá do homem, da fé, criação e da espiritualidade. É reverenciado como aquele que movimenta a vida no sentindo da busca pelas motivações da existência e do amor ao próximo. Assim, o culto a ele é festejado no dia 15 de novembro.

Alguns umbandistas confirmam que há certo sincretismo entre Oxalá e Jesus Cristo. Oxalá foi o primeiro orixá criado por Deus, o Olorum, e ele recebeu a missão de ser o criador do mundo.

A terra, água e o mar são, portanto, obras dele. Cada casa de umbanda utiliza uma cor para representar seus orixás, no entanto, tradicionalmente, para designar Oxalá, a cor utilizada é a branca, pois simboliza a paz e sua presença em todos os lugares.

O que é Iorubá e qual a relação com Candomblé?

O candomblé é uma adaptação do culto aos Orixás baseada na realidade vivida pelo povo negro aqui no Brasil com a escravidão e perseguição. Atualmente, em terras brasileiras, existem a religião tradicional de Iorubá e o Candomblé, embora ambas sejam de matriz africana, separaram-se em determinado momento histórico e por isso são diferentes.

Os Iorubás foram importantes na formação cultural do Brasil. Estes são grupos étnicos que vivem na Nigéria, República de Benin e Republica do Togo. No entanto, a história dos Iorubás está espalhada por toda a América, mas, infelizmente, isso ocorre por causa da cultura escravista sob a qual esses povos viveram por muitos séculos.

A importância das ojoyês/ekedes no terreiro

As Ojoyês ou ekedes são importantes antes, durante e depois do ritual do candomblé. Também é o cargo de mais responsabilidades, pois como já dito antes, são as Zeladoras de Orixás. Elas são encarregadas de todos os trabalhos que ocorrem dentro do terreiro, portanto, a limpeza, comida e ornamentação são parte de suas atividades.

Assim, ser uma ekede é estar predestinada a uma grande missão. Logo, os cuidados com os visitantes, a integridade física, o ensino das crianças e dos iniciantes são parte de sua vida. Elas têm o papel social e religioso no candomblé.

Apesar de tanto trabalho, elas ocupam o cargo mais alto na hierarquia dentro do terreiro, pois representam a mãe e a porta voz dos Orixás.

Esses termos também são usados na Umbanda?

Na Umbanda, o termo ekede não é utilizado. Embora esse cargo exista, o nome dado a ele é o cambono e pode ser exercido por homem ou mulher, ao contrário do Candomblé. Quanto a ajayô ou ajoyê, a primeira é uma saudação positiva e a segunda é um cargo do terreiro. Outras palavras como esta são inspiradas na língua africana, mas tornaram-se tão populares a ponto de ganharem novas terminologias.

Oxalá, no entanto, é uma divindade cultuada tanto na Umbanda quanto no Candomblé. Sua figura é masculina e representa a inteligência e criatividade, assim, os filhos do Oxalá também carregam esses traços. A perfeição, união, família são dons vindos desse orixá, e sua qualidade mais conhecida e apreciada é a valentia.

Diferença entre Umbanda e Candomblé

A primeira grande diferença entre essas duas manifestações religiosas está no propósito. Assim, características da ritualidade, da visão de mundo, dos costumes e hierarquia do Candomblé têm a missão de resgatar a cultura africana. Já a Umbanda busca a cultura essencialmente brasileira, e dentro do seu terreiro encontra-se a presença do índio, o caipira, o nordestino e até o malandro do morro.

Outra diferença entre essas duas religiões está no culto a Oxalá. No Candomblé, assim como na África é visto como o próprio Deus. Já na Umbanda ele é como uma força da natureza, uma energia, sem uma forma humana. Há também uma relação entre os orixás da Umbanda com os santos do catolicismo, isso, portanto, não ocorre no Candomblé.

Outras palavras que vieram do Iorubá

Acarajé; comida do povo iorubá

Sem dúvidas, muitos costumes africanos foram assimilados no território brasileiro. Os Iorubás são um dentre tantos povos que trouxeram para o país o dialeto, o ritmo, danças e suas tradições que ainda hoje são cultuadas.

Representam a resistência e igualdade entre todos os indivíduos. Veja aqui outras palavras já tão conhecidas, mas que vieram dessa cultura.

Abadá

O abadá era falado na língua dos Iorubás para referir-se às vestimentas utilizadas em seus ritos e festas. Curiosamente, essa palavra existe em árabe e se referiam às pessoas que eram escravizadas.

Porém, no Brasil a palavra continua sendo usada para indicar uma vestimenta. Nessa ocasião, o abadá são as camisetas que se usam em eventos de carnaval.

Acarajé

O Acarajé é, certamente, uma comida muito estimada em Salvador, mas veio do dialeto Iorubá que significa "bola de fogo". Não há dúvidas que o alimento foi um presente da especialidade gastronômica africana.

Tornou-se um símbolo da Bahia, mas na história era uma oferenda aos Orixás, e hoje, mais de três séculos depois, é um patrimônio histórico do povo do Candomblé.

Babá

Babá em Iorubá se refere ao pai. A palavra também acompanha outras expressões do terreiro, a primeira delas e a mais conhecida é a “Babalorixá” para se referir ao Pai de Santo. “Babalawo” é a palavra para o Sacerdote ou Pai do Segredo. Outra expressão candomblecista se refere ao Pai Pequeno como “Babá Kekere”.

Só candomblecistas podem falar ajayô?

Mulher adepta ao Candomblé

Qualquer pessoa adepta, com conhecimento de causa e cultura candomblecista pode falar ajayô. O respeito e a boa intenção em relação a essa expressão são fundamentais para utilizá-la na ocasião adequada.

Com a popularização da palavra por Carlinhos Brown, a sensação é de certa permissão para também nos apropriarmos de seu uso. Apesar ter sido mais disseminada por meio do programa The Voice Brasil, ela já era dita muito antes disso.

Contudo, a saudação é falada pelo grupo de afoxé chamado Filhos de Gandhy que existe desde 1949, e ainda marca presença nas alegorias no período de carnaval. Durante os desfiles pode-se ouvi-los gritando ajayô de forma sincronizada.

Assim, caso se identifique com o propósito trazido pela expressão, não há problema nenhum em utilizá-la. Lembre-se, porém, de sempre manter o respeito às tradições e história que essa saudação carrega.

Autor deste artigo

Sou jornalista, contadora de histórias e apaixonada por todas as artes. Quando escrevo, sinto que o mundo se torna um lugar melhor. Depois ele deixa de ser, então escrevo outra vez.

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