Quem é Santo Antônio na Umbanda? Orixá, sincretismo, história e mais!

O sincretismo entre a Umbanda ou Candomblé e o Catolicismo é marcante, tendo seus Santos e Orixás relacionados diretamente. Entre eles, está Santo Antônio, que na Bahia é sincretizado com Ogum, em Recife com Xangô e no resto do país como Exu, o Senhor dos Caminhos.

Muito além dos efeitos do colonialismo, o sincretismo entre Santo Antônio e Exu remete a várias semelhanças entre ambas as entidades. Claro que há também quem não concorde, como acontece em toda relação do tipo. Para entender melhor, conheça mais a fundo essa relação e se é possível cultuar o Santo e o Orixá ao mesmo tempo.

Tanto Santo Antônio quanto Exu são entidades muito queridas em seus panteões, representando a coragem, boa oratória e proximidade com as pessoas. Corajosos e protetores, eles têm muitos pontos em comum, que apenas reforçam esse sincretismo. Entenda melhor a história de cada um.

Nascido Fernando Antônio Bulhões, de família rica, Santo Antônio era filho único e desde jovem servia à igreja, tornando-se capuchinho tempos depois. Conhecido como santo casamenteiro, ele doava parte da sua fortuna para moças poderem pagar o dote e se casarem sob a proteção da Igreja.

Também era conhecido como o padroeiro dos humildes, dado o seu costume de distribuir alimentos para a população menos abastada com seu próprio dinheiro. Ficou famoso por operar milagres, sendo médico renomado e professor em universidades na Itália e França.

Na Umbanda, Exu é o guardião dos caminhos e protetor dos que precisam de sua ajuda. Humilde, alegre e com o dom da oratória, ele sabe como inspirar, consolar ou dar aquele sermão que ninguém vai esquecer. Ele é o mensageiro entre o Sagrado e as pessoas.

O mais humano dos Orixás, Exu é movimento, é energia dinâmica, é vida. Abre caminhos, ajuda a quem precisa e sabe como se comunicar. Ele nunca deixa faltar o pão àqueles que lhe pedem e amor aos que sofrem por isso. Não é o mal, nem o bem, apenas energia e movimento.

O sincretismo religioso é uma realidade e demostra sua forte presença em locais onde o culto afro tem maior influência, como o Rio de Janeiro ou na Bahia. Veja por exemplo, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, que acontece em 2 de fevereiro, com oferendas para a Orixá Iemanjá.

Tanto o panteão católico quanto o africano se unem por laços que remetem ao colonialismo. Santos estão relacionados a Orixás e cultos acabam se unindo e dando origem a novas formas de celebrar o Sagrado, independente do nome que venha a receber. Entenda melhor essa relação.

Sincretismo é a união, ou seja, a combinação de elementos de diferentes religiões. Você pode observar esse fenômeno no início do Cristianismo que adotou festas e símbolos pagãos para atrair mais fiéis, como por exemplo, o Natal, que é o Sabbath De Yule, onde a Deusa dá a luz ao Deus Sol, no solstício de inverno; ou o Sabbath de Ostara e a ressurreição de Cristo.

Também o panteão grego e romano tem similaridades imensas com a correlação entre suas deidades e tradições. O mesmo acontece com o panteão africano e os santos católicos, com relações que perduram desde o Brasil colonial até os dias de hoje.

A Umbanda é uma religião brasileira, mas suas raízes estão nas matrizes africanas. O culto aos Orixás foi transmitido oralmente pelos homens e mulheres trazidos involuntariamente da África para trabalhar no país. Além de todo o sofrimento imposto, eles também foram obrigados a "aceitar" o catolicismo como sua religião.

Uma forma de manter sua própria cultura, mesmo que de forma velada, era associar suas deidades aos santos locais, a partir de características similares. E foi assim que se iniciou o sincretismo religioso entre catolicismo e Umbanda, como uma forma de manter sua essência e ainda se adaptar ao que era imposto.

A associação entre Exu e Santo Antônio faz parte desse sincretismo entre as matrizes africanas e o cristianismo. Ela nasce das semelhanças entre essas duas entidades e da necessidade de continuar seu culto. Conheça mais detalhes dessa relação.

Para a Umbanda, Santo Antônio é associado a Exu, sendo ambos respeitados como individualidade em cada religião. Porém, a associação entre eles é marcante por apresentarem fatores em comum. Para entender o sincretismo religioso, é importante lembrar que muitas vezes, o Sagrado pode ter várias representações, porém é um só.

Por isso, não faz diferença dizer que Santo Antônio é Exu – ou não o é – pois ambos tratam da mesma energia de movimento, abundância, proximidade com o que é humano e claro, amor incondicional. Dessa forma, escolha o que te faz bem e se reconecte, da sua forma.

Ambos os arquétipos (representações de uma determinada coisa, nesse caso o Sagrado) – Exu e Santo Antônio - estão relacionados ao amor. Isso porque, o Santo católico é associado à facilidade em conseguir se casar com seu amor, enquanto Exu, como energia criadora, também é chamado para facilitar o processo.

Para o católico, se consegue o amor colocando o santo no congelador, dentro da água ou amarrado de cabeça para baixo. Para o umbandista, se agrada o Exu, com suas oferendas favoritas, esforço e retidão de caráter. Em ambos os casos, a fé está sempre presente.

Tanto Exu quanto Santo Antônio são conhecidos pela sua capacidade de comunicação com as pessoas. Seja através da pregação, disseminando a palavra da fé ou através do sermão, que ajuda a corrigir o caminho.

Santo e Orixá, ambos com seu dom da pregação, bons conselhos e uma mão amiga para ajudar sempre que necessário. Santo Antônio era professor universitário, mas falava a língua do povo. Exu fala todas as línguas e é o intermediário entre Orixás e humanos.

Exu e Santo Antônio apresentam diversas similaridades. Entre elas, o dom da comunicação, a aproximação do espiritual e material, além de estarem relacionados aos casos de amor impossível.

Também são atribuídos a Exu o dom de atrair abundância e prosperidade, sem deixar faltar o pão para quem precisa. Da mesma forma, Santo Antônio é visto como provedor da fartura.

O dia de Exu e Santo Antônio é 13 de junho, data da morte do santo, que aconteceu em Pádua, na Itália. Motivo pelo qual fez com que ele ficasse conhecido como Santo Antônio de Pádua.

É também época de festa para agradecer pela fartura, pela colheita, conhecida como festa junina. E a abertura das festas ocorre exatamente em dia de Santo Antônio, ou Exu, Senhor dos Caminhos e da fartura.

Cada pessoa escolhe como vai se relacionar com o Sagrado, o divino. Se para você, se conectar a essa força de movimento através do sincretismo entre os panteões africano e católico é o melhor caminho, então é claro que pode.

Afinal, o que é a religião, se não uma forma de se reencontrar e ressignificar o que é considerado divino? Assim, o sincretismo entre Exu e Santo Antônio pode representar duas entidades ou apenas seu significado, sempre alinhado à sua escolha do que é o Sagrado.