Qual é o sentido da vida?
Uma pergunta que atravessa as eras da humanidade. Qual é o sentido da vida? Pessoas de todas as épocas, culturas e religiões se deparam com essa questão em algum ponto de suas existências. Para a filosofia, essa tem sido uma questão essencial. Este é, afinal, um tema de interesse profundo, e a busca por uma resposta traz uma série de novas perguntas.
Muitas pessoas alegam que o sentido da vida está em encontrar o seu lugar no mundo, e relacionam esse sentido às realizações pessoais ou à satisfação com relacionamentos. De todo modo, não existe uma resposta única, e a descoberta é sempre uma jornada individual.
O sentido da vida para Viktor Frankl
Iremos conhecer as ideias acerca do sentido da vida desenvolvidas pelo neuropsiquiatra Viktor Frankl, que escreveu profundamente sobre o assunto. Acompanhe.
■O livro de Viktor Frankl
Viktor Frankl (1905-1997) foi um neuropsiquiatra austríaco. Ele fundou uma escola de psicologia conhecida como "Terceira Escola Vienense de Psicoterapia ou Logoterapia e Análise Existencial." O foco dessa abordagem é a busca do sentido da vida.
Frankl desenvolveu sua teoria a partir de sua experiência pessoal. De família judia, ele foi enviado, junto com seus familiares, para os campos de concentração durante o Holocausto. Em 1946, sendo um sobrevivente dos horrores do nazismo, publicou o livro “Em Busca de Sentido”, obra em que examina as razões para sobreviver e encontrar sentido em um mundo assolado pela maldade e pelo sofrimento.
■Viver com decisão
Em seu livro “Em Busca de Sentido”, Viktor Frankl observa que, antes de tudo, as pessoas precisam tomar a decisão de viver a fim de encontrar um sentido, dizendo sim à vida. Então, a partir daí deve escolher um caminho para trilhar.
Nesse sentido, é preciso atingir um grau de determinação que nos guiará em todos os momentos e desafios que enfrentarmos. Quando nos decidimos a ir em busca de algo, segundo Frankl, temos que acreditar em nós mesmos e decidir que iremos perseguir o que desejamos.
Isso significa nos tornarmos donos do nosso próprio destino, encontrando coragem para seguirmos um caminho escolhido.
■Clareza de propósito
Viktor Frankl associa a busca de sentido à clareza de propósito. Isto é, buscar um sentido na vida é o que nos salva da depressão e do sentimento de estarmos vivendo sem objetivos. Mas para perseguirmos o sentido da vida, é necessário que tenhamos, antes de tudo, clareza de propósito.
Ter um propósito significa ter um porquê. Segundo Frankl, as pessoas que sabem o porquê de suas vidas suportam todos os 'comos'. Propósitos de vida são coisas que podemos construir. É preciso ter foco e determinar para nós mesmos o caminho que gostaríamos de trilhar. Isto é um bom ponto de partida.
■Mudança de atitude
A fim de encontrar em si mesma uma clareza de propósito e começar a tomar decisões, uma pessoa precisa passar primeiro por um processo de mudança de atitude. É importante que a pessoa tenha consciência de que não é capaz de mudar todas as coisas, porém. Aceitar o que nos acontece significa fazer as pazes com o passado.
Mas não devemos ser prisioneiros dele. Nesse sentido, nossa atitude pode se transformar: da reação negativa para uma ação, com efeitos positivos. A resiliência consiste em buscar enxergar as possibilidades apesar dos acontecimentos ruins, procurando saídas e utilizando as experiências de sofrimento como aprendizado.
O sentido da vida e felicidade para os pensadores
A seguir, entenda como vários pensadores de diferentes épocas abordaram a questão do sentido da vida e da busca pela felicidade. Confira.
■Joseph Campbell
Joseph Campbell (1904-1987) foi um escritor e professor de mitologia norte-americano. Para ele, o sentido da vida é algo atribuído por nós mesmos, isto é, em vez de buscá-lo como algo vago e desconhecido que não sabemos muito bem quando iremos encontrar, ele está no próprio fato de estarmos vivos.
Em outras palavras, somos nós os responsáveis por determinar a nossa razão para viver, o nosso propósito nessa existência. Segundo Campbell, a felicidade será encontrada quando insistirmos em viver o que nos faz bem, ou seja, muitas vezes não somos felizes porque temos medo de perseguirmos o que realmente desejamos.
■Platão
Platão, um dos filósofos gregos mais conhecidos e importantes, viveu no século 4º antes de Cristo, na Grécia Antiga. A felicidade, para Platão, está fundamentalmente relacionada com a ética. Desse modo, não é possível conquistar a felicidade sem antes aprimorar em si as virtudes, sendo as principais a justiça, a sabedoria, a temperança e a coragem.
Para Patão, o sentido da vida seria a aquisição da felicidade, algo que só se conquista por meio do aprimoramento de si, o que passa necessariamente pela busca do bem comum. O propósito de uma pessoa, portanto, na perspectiva de Platão, consiste em perseguir a plenitude ética.
■Epicuro
Epicuro, filósofo grego que viveu durante o período Helenístico, acreditava que a felicidade é o propósito comum de todas as pessoas. Nesse sentido, devemos perseguir em nossas vidas a satisfação pessoal, buscando abstrair os problemas e superar as barreiras entre nós e nossa alegria.
Essa busca concentra-se na experimentação do prazer, isto é, devemos encontrar o que nos faz bem e nos afastar ao máximo das preocupações. Assim, o sentido da vida, de acordo com Epicuro, seria tentar evitar todas as dores não concretas, e suportar as do corpo, já que nem sempre podemos fugir delas, lembrando que tudo é passageiro.
■Sêneca
Sêneca foi um filósofo pertencente à corrente do Estoicismo, e viveu na Roma do primeiro século. As crenças de Sêneca em relação à busca pelo sentido da vida e a felicidade estão em concordância com os ensinamentos dessa escola filosófica.
Os estoicos buscavam basear suas vidas nas virtudes e esforçavam-se para afastarem-se das emoções destrutivas. Desse modo, para Sêneca, a felicidade só poderia ser encontrada no bem-estar moral, o que consiste primeiramente na prática da ética.
Assim, o propósito de uma pessoa deveria ser suportar as dificuldades, ser indiferente ao prazer o tanto quanto puder e contentar-se com o suficiente.
■Franz Kafka
Franz Kafka (1883-1924) foi um escritor de língua alemã nascido na atual República Tcheca. Sua visão acerca do sentido da vida pode ser considerada trágica ou extremamente pessimista. O autor escreveu que “o sentido da vida é que ela termina”. No entanto, encontramos uma questão filosófica profunda nessa citação.
Na obra de Kafka, temas como opressão, punição e crueldade do mundo são utilizados para refletir sobre uma sociedade que se pauta pela mais completa perda de sentido. Isto porque, para Kafka, não há sentido na manutenção de um sistema injusto, baseado no medo e na opressão, e a felicidade só pode existir com a ausência do medo.
■Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um influente filósofo alemão. O pensamento de Nietzsche acerca da felicidade é que ela é uma construção humana. Isto é, para o filósofo, as pessoas precisam do desejo muito mais do que das realizações.
Dessa maneira, a felicidade é vista por Nietzsche como algo frágil e impossível de ser constante, sendo tocada em apenas alguns momentos na vida. Quanto ao sentido da vida, Nietzsche acreditava ser necessário ir em busca dele, encontrando para si propósitos bem definidos.
Assim, o sentido da vida, em sua perspectiva, dependia do desejo e da vontade de cada pessoa de atingir a autorrealização.
O sentido da vida e eternidade para as religiões
Saiba nesta seção como as religiões falam sobre o sentido da vida e a eternidade, abordando similaridades de pontos de vista. Confira!
■Cristianismo
O Cristianismo prega que o sentido da vida está nas ações que realizamos em prol do bem. Isso significa que, para os cristãos, só existe felicidade e sentido na prática da bondade e da justiça, e que devemos viver nossas experiências terrenas visando o desenvolvimento do espírito.
Os ensinamentos de Jesus Cristo servem como modelo para os cristãos, uma meta espiritual a ser perseguida. A eternidade dos justos é o descanso e a recompensa das ações realizadas durante a vida física. Durante o processo de aprimoramento espiritual, devemos buscar o arrependimento e elevar nosso pensamento a Deus, afastando-nos dos prazeres da matéria.
■Judaísmo
Para os adeptos do Judaísmo, o sentido da vida está contido nas escrituras sagradas e pode ser resumido como o cumprimento e a observância das leis divinas.
Assim, o conhecimento dos ensinamentos registrados na Torá, por exemplo, associado à reverência constante a Deus e à aceitação de sua vontade, conduz os judeus a assumirem em suas vidas comportamentos baseados em valores espirituais.
Desse modo, os judeus praticantes devem buscar a Presença Divina dentro de si. É por meio dessa prática das leis de Deus que uma pessoa garante seu lugar na eternidade, que, para a compreensão judaica, é a imortalidade em plenitude.
■Hinduísmo e budismo
Para o hinduísmo, o sentido da vida e a eternidade estão profundamente interligados. Isto porque os hindus creem que o ser humano cumpre um propósito na Terra que o conduz à paz eterna da vida após a morte. Esse propósito passa por etapas chamadas de desejo, libertação, poder e harmonia moral.
Já os budistas acreditam que o ser está destinado à Felicidade Absoluta, algo que se começa a atingir em vida física por meio do aprimoramento espiritual, e que culmina em uma eternidade de paz e plenitude. A Lei de Causa e Efeito, portanto, rege o mundo: colheremos o que plantamos.
■Similaridades
Todas as religiões da história lidaram com a questão do sentido da vida. De maneira similar, todas elas abordaram o tema da eternidade, relacionado com a continuidade do espírito, ou alma, após a morte.
Para algumas religiões, o espírito deve retornar, em ciclos encarnatórios, a fim de atingir a evolução espiritual, rumando para a perfeição. Para outras, são as ações na vida física presente que garantirão a felicidade da alma após a morte, na eternidade.
De todo modo, há um consenso entre diferentes abordagens religiosas quanto à necessidade de se viver uma vida baseada em valores morais e buscar fazer o bem para alcançar a felicidade.
Dicas para encontrar o sentido da vida
Continue a leitura para conhecer e se aprofundar em algumas dicas valiosas para encontrar o sentido da vida. É importante valorizar a individualidade e descobrir as suas preferências. Acompanhe.
■Descobrir suas preferências
Há um consenso em torno da busca pelo sentido da vida: só pode encontrá-lo aquele que tem propósitos. Mas para definir quais são os propósitos na sua vida, é necessário, antes de tudo, o autoconhecimento. Conhecer a si mesmo, é claro, passa por descobrir suas preferências.
Em concordância com muitos filósofos e pensadores que se debruçaram sobre o assunto do sentido da vida, o senso comum também nos diz que precisamos encontrar alegria naquilo que gostamos de fazer. Dedique-se, portanto, a encontrar os seus prazeres na vida, suas paixões e sonhos. Perseguir um propósito é importante: buscar é viver significativamente.
■Valorizar a individualidade
Um aspecto de vital relevância para encontrar o sentido da vida é valorizar a individualidade. O mundo, afinal, é feito de pessoas muito diversas, de culturas distintas, visões particulares e experiências particulares. Para se conhecer bem e estar confortável na própria pele, é necessário que nos dediquemos a autovalorização.
Sabendo que todos têm um valor especial e particular, pode-se seguir uma trajetória própria, mirando menos na comparação com as vidas dos outros e mais nas suas próprias características e qualidades. Aliás, o sentido da vida não é universal. É sempre uma noção adaptada aos nossos desejos, ao que pode nos tornar plenos e satisfeitos.
■Buscar propósito
A busca por propósito é etapa fundamental para encontrar um sentido para a vida. Não é possível ser feliz sem propósitos. Metas, projetos, sonhos, desejos: quando nos dispomos a traçar um caminho para nós mesmos, estamos delineando um propósito. É preciso respeitar, antes de tudo, o próprio desejo.
Pergunte-se o que, na sua percepção de si mesmo, falta para que você seja feliz. Para alguns, é segurança financeira, para outros, é constituir uma família. Outros, ainda, buscam trabalhar com aquilo que mais amam. Na verdade, mais importante do que as conquistas, é ter algo a perseguir, pois o desejo é combustível da vida.
■Focar no que funciona
A busca por identificar e determinar qual é o seu propósito na vida passa pela experiência. De toda a experiência nessa existência terrena fazem parte os erros e os acertos. Aquele que quer encontrar um projeto de vida, ou que deseja descobrir um sentido para estar aqui, precisa, portanto, arriscar-se.
A experiência é uma escola para que saibamos o que funciona e o que não funciona para a nossa personalidade. Uma vez que você se dedicou a alguma empreitada, projeto ou meta, atente-se para como se sentiu. Se aquilo lhe fez feliz e pleno, se um caminho determinado se mostrou aprazível e cheio de possibilidades a você, persiga-o.
■Prestar atenção aos detalhes
O sentido da vida é algo que podemos perseguir durante toda a existência, mas, se pararmos para refletir profundamente, ele pode ser encontrado no cotidiano, inclusive nas coisas mais simples. Prestar atenção aos detalhes das suas experiências na Terra é aprender a enxergar como cada coisa pode ser plena de sentido.
Ter saúde, por exemplo, é ter oportunidade de experimentar inúmeras possibilidades de estar vivo. Passar por problemas de saúde, por outro lado, pode ser uma escola sobre o sofrimento e a superação. Aquele que está atento ao que o universo diz encontra mais facilmente as respostas dentro de si.
Considerações gerais sobre o sentido da vida
Na sequência, vamos abordar alguns tópicos muito importantes para quem deseja saber mais sobre o sentido da vida e a felicidade. Saiba mais!
■A busca pela felicidade
Uma das maiores questões da humanidade é a busca pela felicidade. Muito se escreveu a respeito do desejo humano de encontrar a felicidade. Existem correntes de pensamento que, inclusive, põem em questionamento a própria existência dela.
Se a felicidade é uma utopia, isto é, algo idealizável, porém inatingível, há também pensadores que propõem que o sentido da vida está não em encontrá-la, mas sim em persegui-la.
O próprio caminho que trilhamos em busca das coisas que nos deixam bem e trazem alegria e satisfação pessoal seria, nessa perspectiva, a razão da nossa existência. A felicidade consiste na experiência, especialmente em determinarmos propósitos para nossas vidas.
■Colhemos o que plantamos
Algumas correntes da filosofia, assim como algumas religiões, centralizam a questão do destino em algo que pode ser chamado de Lei de Causa e Efeito, mas também de carma. Essa perspectiva argumenta que encontraremos em nosso caminho algo como uma devolutiva de nossas ações.
Porém, não são somente as ações que estão em jogo nas colheitas da vida. Os pensamentos e as posturas que assumimos diante de variadas situações nos dão indícios do que poderemos encontrar adiante. Assim, enxergar nossos erros e as coisas ruins que nos acontecem pode ser algo a ser encarado sob uma ótica de aprendizado.
■O que consideramos correto
A busca pelo sentido da vida está baseada em uma série de fatores. É importante, dentre eles, sabermos claramente o que queremos e trabalharmos em prol de alcançar objetivos almejados. Porém, existem questões éticas que se colocam como necessárias à reflexão sobre nós mesmos.
Tudo o que fazemos tem consequências no universo. Nossas ações são pautadas por nossa personalidade, mas também sobre o que nos foi ensinado, seja pelos pais, pela escola ou pelas experiências vividas.
Existem, no entanto, valores em comum para a sociedade, e aquilo que consideramos correto deve ser baseado em buscarmos o melhor para nós mesmos sem prejudicar outras pessoas.
■O aprimoramento pessoal
O caminho para a felicidade passa inevitavelmente pelo aprimoramento pessoal. Existem pessoas que apostam todas as suas fichas em benefícios materiais. Buscam uma vida de conforto para si, mas negligenciam aspectos emocionais e espirituais, por exemplo.
Além disso, a consciência que se desliga do bem-estar comum, isto é, da empatia com o coletivo, acaba em estagnação. Estagnação é o efeito das satisfações vãs, aquelas que duram pouco tempo e que não preenchem, de fato, a alma.
É por isso que muitos pensadores colocam o foco do sentido da vida no aprimoramento pessoal, e acreditam que somente pelo desenvolvimento da própria humanidade poderemos atingir a felicidade.
■A felicidade deve ser compartilhada
Quase todo mundo já leu ou escutou a máxima: a felicidade só é possível se compartilhada. Essa é uma frase que orienta a buscar, sobretudo, o desenvolvimento pessoal, ou seja, o aprimoramento de valores e de percepções como a empatia. A busca por benefícios materiais traz conforto e satisfação, mas a felicidade que gera é temporária e sem profundidade.
No fim das contas, as pessoas necessitam de outras pessoas, de interações que envolvam compreensão, afeto, reconhecimento. Além disso, em uma sociedade repleta de desigualdade, aqueles que buscam se envolver com o bem comum tendem a encontrar maior sentido e plenitude para suas jornadas pessoais.
■Desejo é mais importante que satisfação
Há pensadores que situam o sentido da vida na própria busca pelo sentido. Assim, argumentam que o desejo é mais importante que a satisfação. Isto porque, quando conseguimos alcançar uma meta pretendida, ou realizar um sonho, a tendência é que nos perguntemos: e agora, o que vem depois disso?
Pode se seguir um vazio que necessita de novos propósitos para ser preenchido. Logo, a inclinação humana é permanecer buscando. O que transforma uma trajetória, da sensação de se estar perdido para a sensação de se estar vivo por alguma razão, são os propósitos. As pessoas necessitam de propósitos, sonhar é fundamental e realizar é consequência.
Por que buscar o sentido da vida?
Uma pessoa não pode atravessar uma vida sem propósitos. É comum que abandonemos um projeto, que não consigamos realizar um determinado sonho, ou que nossas vontades e desejos se transformem, sendo substituídos por outros.
No entanto, algo permanece como uma grande inquietação para a maioria das pessoas: queremos saber qual é o sentido da vida. Sentimos que a felicidade só poderá ser encontrada quando respondermos a essa pergunta.
O sentido da vida não é o mesmo para todos, mas há algo em comum: é a própria busca que nos traz surpresas, autoconhecimento, sensibilidade e sabedoria. Talvez, o sentido da vida seja exatamente focar no cultivo, e não na colheita.
Sempre gostei de escrever. Escrevo sobre filmes e sonhos, e aprecio viagens, história e cultura em geral.